Ulverson Olsson era um homem portador de caráter
especial, que se tornara indiferente ao bem, afirmando que ninguém
realizava qualquer coisa de útil, que não mantivesse sob disfarce os
interesses inescrupulosos dos desejos egoísticos.
Nascera num lar abastado de família tradicional e a
ociosidade dele fizera um fútil, destituído dos sentimentos superiores
de solidariedade e de amor.
Nos seus comentários ácidos sempre destilava pessimismo, a soldo de um comportamento cínico e destruidor.
Zombava da ingenuidade de Nils Holgersson e da pata Abba
de Kebnekaise em sua viagem fantástica pelas fronteiras da Suécia
demarcando as regiões, reduzindo todos os atos de amor a lendas e
fantasias da imaginação de pessoas que considerava servis?
Tendo visitado a Lapônia (Lapplandis lãn)
desconsiderava as tradições e as heranças místicas do seu nobre povo,
lamentando não haver nascido na formosa região, onde os gênios e as
fadas confraternizam com as criaturas vegetais, animais e humanas, para
ter o prazer de as negar.
Como a sua existência era ociosa, viajava, quase sem
cessar, a fim de apaziguar o vazio interior, que resultava da falta de
objetivos elevados com que a existência humana se torna digna e formosa.
Insensível ao amor, comprometera-se intimamente
gratificar qualquer pessoa cujos gestos de abnegação fossem destituídos
de ambições egotistas.
Mesmo quando se referia a Jesus, em cuja doutrina fora
educado, recusava-se a render-se ao Amor capaz de apaziguar todas as
inquietações com a doçura do Seu olhar, com a musicalidade da Sua voz e
com a inefável bondade do Seu coração.
Nesse tormento, fizera-se solitário e, porque não dizer, infeliz.
A felicidade é filha predileta do sentimento dos deveres
tranquilamente cumpridos, mas Ulverson, distanciado do trabalho de
solidariedade humana, não atendia a compromissos morais relevantes, nem
desempenhava atividades que lhe exalçassem o caráter.
Nem mesmo as doces criancinhas conseguiam arrancar-lhe um sorriso de carinho ou um gesto afetuoso.
Dizia que se tratava de seres desagradáveis, e que,
ingênuas na infância iam crescer depois, tornando-se arrogantes e
desagradáveis quando adolescentes e adultos...
Parecia a figueira que secou, a grave lição
apresentada por Jesus, no Seu Evangelho, como ensinamento profundo a
respeito da produção que tudo e todos devem cumprir.
O seu mau humor tornara-o uma pessoa indelicada e desagradável.
A vida humana é rica de oportunidades para amar-se e confraternizar-se, espalhando alegrias e produzindo bem-estar.
Existem muitos corações afetuosos que perderam o rumo e,
semelhantes a embarcações sem leme, navegam à matroca, correndo riscos
numerosos.
Também são incontáveis aqueles que experimentam
sofrimento e solidão, por não encontrarem uma palavra de amizade ou de
compreensão, ajuda fraternal e entendimento, capazes de diminuir-lhes as
culpas, os conflitos, as aflições pessoais...
Toda vez quando alguém se resolve por ajudar outrem, torna-se melhor, descobre o valor da existência e enriquece-se de alegria.
Não era o caso de Olsson, o viajante desencantado de si mesmo.
Numa das viagens, enquanto caminhava triste, observou um
homem de avançada idade, que plantava pinheiros? Silenciosamente,
cavava o buraco na verde relva e colocava uma semente, cobria-a e seguia
adiante.
Parecia cansado, vergado ao peso dos anos, mas o semblante apresentava um sorriso jovial e encantador.
Tudo nele denotava a presença da felicidade, que nascia nas fibras delicadas do amor.
O rosto se encontrava iluminado por um sorriso gentil.
Quando Olsson o viu, sentiu-se estranhamente atraído pelo semeador, a quem interrogou:
Essas terras lhe pertencem, considerando-se que o
senhor está plantando essas pináceas que crescem lentamente e que a sua
idade não lhe permitirá vê-las grandiosas?
Não, não me pertencem essas terras. São da comunidade
e delas cuido para que permaneçam exuberantes em decorrência das
árvores nelas plantadas e replantadas.
Certamente não as verei adultas e belas. Mas isso,
para mim, não é importante, porque todas essas que existem a volta, não
fui eu quem as plantou, e aqui estão oferecendo-nos madeira, sombra,
beleza, mantendo a natureza em triunfo?
Ele fez uma pausa, e logo prosseguiu:
Quando eu era jovem, plantava legumes porque podia
alimentar-me deles pouco tempo depois. Com o tempo ocorreu-me plantar
árvores?
E o que o senhor ganha com isso? ? interrompeu-o, desconfiado.
Ganho a alegria de semear. Recordo-me que muito antes
de mim, houve Alguém que semeou vidas para todo o sempre. Mesmo quem
planta árvores pensa em acolher-se na sua sombra, o que não é o meu
caso, mas quem planta vidas, semeia para a eternidade, sem esperar
qualquer recompensa. Foi o que fez Jesus?
Nunca devemos semear esperando a colheita por nós mesmos, mas por todos aqueles que virão depois.
Não espera nenhuma compensação?
Sim, o prazer de semear, de plantar beleza, de participar da vida.
Emocionado, pela primeira vez, Ulverson Olsson, saltou do animal e acercando-se do ancião, disse-lhe com inusitada alegria:
Permita-me plantar árvores com você e cuidar da sua vida, porque sou jovem e cheio de energias.
Como Alguém plantou vidas, espero que Ele aceite que eu seja cuidador também da vida que Ele semeou.
A partir dali, em face da lição do semeador, Ulverson
fez-se, também, semeador de esperança, de alegria, de paz, de árvores e
de vidas?
Franco, Divaldo Pereira. Pelo Espírito Selma Lagerlöf.
Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na noite de 28
de maio de 2008, em Estocolmo, Suécia.
Fonte:
http://www.divaldofranco.com/mensagens.php?not=115.
* * * Estude Kardec * * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário