9 de novembro de 2011

Contra-Senso



Alguém bate à porta principesca.
Ela, a dona da casa, atende.
Abre a porta e encontra pobre velhinho à frente.
Andrajoso. Cansado. Feridento.
É um pedinte que roga auxilio.
Fria e insensivelmeflte, ela despede o visitante, dizendo nada ter que possa dar.
E volta. resmungando à intimidade doméstica, maldizendo o infeliz.
— É malandro! — declara.
E acrescenta:
— Para vadios, só a cadeia.
Nisso, pequeno rato desliza-lhe pelos pés.
Assustadíssima, clama por socorro. Chora.
Fecha-se, superexcitada, em quarto próximo, a lastimar-se.
Bate-lhe o coração fortemente, as mãos tremem, a face está lívida e, por fim, depois de um copo d’água,
procura o festejado gato de estimação para exterminar o camundongo.
*
Assim são muitas de nossas comoções.
Não vibramos ante os quadros dolorosos que pedem ajuda e agitamo-nos, agoniados, diante de incidentes
banais.
*
Amigo, controle a sensibilidade, vigiando reações e policiando as idéias, para que o rendimento maior dos
seus dias, à luz do Evangelho Vivo, seja realidade em seu caminho.
Recorde que muita gente na Terra enfeita gatinhos prediletos e se enoja diante de irmãos em luta.
E há milhares de almas outras que exibem clamorosa frieza ante os apelos do bem e mostram imensa
emoção à frente de um rato.


Waldo Vieira - Valérium

Nenhum comentário: